Nossa História

 

     Nos idos de 1900 o colportor August Brack, chegou a Bom Retiro em busca de almas sinceras para ofertar a fulgurante luz da verdade, deparou-se com uma bela paisagem de belos campos e altaneiros montes. Montado em seu animal encontrou poucas casas no pequeno vilarejo denominado Entrada dos Campos das Lagens, mas uma por uma ofereceu a fulgurante luz contida nos livros que vendia. Chegou na casa de um senhor avançado em anos chamado Johann Deucher, um imigrante alemão de fé luterana que viera com sua família para o Brasil em 1861. Diante a oferta do colportor Johann demonstrando muito interesse nas literaturas adquiriu dois livros, os quais estudou com humildade, comparando-os com a velha Bíblia trazida de seu país de origem. Johann Deucher se encontrava com 73 anos, seu coração já calejado pelas intempéries da vida não resistiu ante o trabalho do Espírito Santo e aceitou a mensagem. Seu coração começou a bater mais forte, seus olhos cansados brilharam novamente. Cheio de esperança deu conhecimento a todos da família das boas novas que havia descoberto. Decidiu observar o sétimo dia da semana – o santo sábado do Senhor e juntamente com ele alguns filhos noras, genros e netos renderam o coração a Cristo, ao passo que alguns para tristeza do patriarca rejeitaram a mensagem vinda de Deus. O grupo recém converso começou a se reunir na casa do pioneiro Johann Deucher onde eram realizados os cultos de pôr-do-sol e de sábado. A chama fulgurante da verdade havia lhes mostrado um novo caminho e a breve volta de Jesus era algo vivo dentro de seus corações. Numa reunião festiva foram batizados pelo Pastor Friedrich Weber Spies e nada parecia impedi-los de adorar a Deus em liberdade, até que as adversidades começaram a surgir. Pelo fato dos recém conversos observarem o sábado como dia de repouso e não o domingo, isto casou de certa maneira espanto em algumas famílias e fez com que a nova religião, fosse denominada pejorativamente de “movimento sabatista”. Desde então os cultos de pôr-do-sol e de sábado freqüentemente eram interrompidos pelos vizinhos e pelos que por ali transitavam, os quais jogavam pedras nas paredes e telhado da casa. Todos paravam de cantar e permaneciam em silêncio, até que eram deixados pelos escarnecedores, e enfim podiam finalizar o culto e retornar para casa. Ao se dirigirem para seus lares eram zombados e em meio ao motejo ouviam: “sabatistas”. Toda essa zombaria e escárnio de alguma forma começou a interferir na difusão e aceitação da mensagem e alguns interessados começaram a recuar diante a repreensão.

     Pouco tempo havia passado desde o primeiro batismo, e os fiéis guardadores do sábado tomavam uma triste decisão: “receber o santo sábado em silêncio”. Não fariam mais cultos de pôr-do-sol, não cantariam, para não serem mais alvo de escárnio.

 Chegava a sexta-feira, o sol declinava em seu crepúsculo no horizonte, pintando a tela celeste com tons avermelhados, marcando o início de mais um sábado, e apresentando assim um espetáculo aos olhos dos crentes, que para ele olhavam com os corações pesarosos porque naquele pôr-do-sol não cantariam.

     O sol declinava-se mansamente por trás das verdejantes montanhas e nas casas dos Adventistas se fazia silêncio. Algo dentro de seus corações lhes constrangia a cantar, mas não podiam, haviam tomado um voto de silêncio e cumpririam com a palavra.

     Mas algo extraordinário e surpreendente estava para acontecer! De dentro de suas casas ouviram um som melodioso, ecoando em notas agradáveis, que vinha de trás do morro do Trombudo, do nascente do sol.

“Quem está cantando?” Alguém perguntou!

 Correram para fora e juntamente com o hino ouviram o som como de asas batendo ao vento.

     O hino ouvido possuía uma letra linda e uma melodia harmoniosa, parecia que uma multidão estava cantando, a harmonia na música era algo extraordinário, como jamais ouviram em suas vidas. O hino foi ecoando sobre eles e diminuindo até desaparecer juntamente com o sol. O hino foi ouvido na língua alemã, que para eles era mais conhecida, sendo este hino o de número 127 do Hinário Adventista do Sétimo Dia de hoje: Quando Deus Fizer Chamada (Wenn Erchallt einst die Pousaune). Concluíram que os anjos haviam cantado, assumindo assim o lugar deles naquele ocaso do sol.

     Triunfantes se reuniram, ajoelharam-se agradecendo a Deus, por haver enviado seus anjos para lhes dar ânimo diante o desdenho dos escarnecedores.

Alguns que estavam relutantes e indecisos aceitaram a mensagem. Resolutos, aceitaram a mensagem tendo plena certeza que vinha de Deus! Aquele Culto de pôr-do-sol foi sem igual! Com as lindas vozes do coro angelical ecoando em seus ouvidos, sentiram a presença do Espírito Santo entre eles, lhes confortando e consolando, dando-lhes ânimo, fervor e lhes acrescentando a fé. Diante do fato ocorrido um novo voto foi tomado, se quisessem zombar deles, que zombassem, no entanto eles não mais receberiam o santo sábado em silêncio!

     Muitos anos nos separam deste acontecimento que marcou entre os Imigrantes Alemães de Entrada, o início do movimento adventista em Bom Retiro. No entanto hoje, nós os descendentes dos pioneiros somos pela fé, motivados a seguir na Trilha dos Pioneiros, tendo em nossa mente o som melodioso deste hino que há mais de 110 anos embala nossos sonhos e esperanças...

 

Texto: Dario Cesar de Lins